Antigamente o concreto era melhor?
Construído no ano 80 d.C., o Coliseu Romano impressiona. A
estrutura de 189 metros de comprimento, 156 metros de largura e
48 metros de altura foi construído para o entretenimento dos
romanos e foi palco dos combates de gladiadores, seja duelando
entre si ou enfrentando animais selvagens. O famoso anfiteatro é
apenas uma das construções romanas que sobreviveram ao tempo e
não perderam a sua imponência. O Panteão de Agripa, considerado
a obra arquitetônica mais bem preservada da Roma Antiga, é ainda
mais impressionante. Ele foi construído no ano 126 d.C. e abriga
a maior cúpula de concreto do mundo. São 43 metros de diâmetro
sem reforço de aço no interior. Mas, afinal, qual o segredo da
durabilidade do concreto romano?
Essa pergunta intrigou os cientistas por séculos e as respostas
parecem cada vez mais próximas. Em 2014, uma pesquisa da
Universidade da Califórnia, nos Estados Unidos, descobriu que a
receita do concreto romano era uma mistura de rochas vulcânicas,
cal e água do mar. Três anos mais tarde, um estudo publicado na
revista American Mineralogist, deu um novo passo para solucionar
esse mistério. As cinzas vulcânicas utilizadas pelos romanos
continham filipsita que, em contato com a água do mar,
lentamente se transformava em um mineral raro conhecido como
tobermorite de alumínio. Esse mineral crescia ao redor das
partículas de cal, entre o agregado e a argamassa, tornando o
material ainda mais resistente e evitando rachaduras.
Mesmo com os avanços, a presença de pequenos pedaços brancos
chamados clastos de cal ainda incomodava os cientistas. Durante
algum tempo, eles foram atribuídos a práticas de mistura
descuidadas ou matérias-primas de baixa qualidade. Porém, em
janeiro deste ano, pesquisadores do Instituto de Tecnologia de
Massachusetts (MIT) descobriram que o segredo está num processo
conhecido como mistura a quente. Ou seja, os romanos adicionavam
cal na mistura de concreto ainda quente. As altas temperaturas
impedem que a cal se dissolva completamente, formando os
cristais. Quando surgem rachaduras, a água presente na mistura
entraria em contato com os clastos de cal. Esse processo de
hidratação faz com que eles se dissolvam e se recristalizem como
carbonato de cálcio logo em seguida, preenchendo a rachadura. O
resultado é um concreto autocurável, capaz de reparar danos
menores.
Neste ponto, você provavelmente deve estar pensando que
deveríamos usar o concreto romano para que as nossas construções
também sejam mais duráveis. Até o mesmo MIT já assegurou as
patentes do método e há rumores que uma empresa parceira do
Instituto deve começar a comercializar um novo tipo de concreto,
baseado nessas descobertas, até o fim deste ano. Mas será que
vale a pena?
Estruturas como o Coliseu e o Panteão foram desenhadas para
durar séculos e utilizaram uma técnica que conhecemos atualmente
como concreto não-reforçado. Como não eram
usadas vigas e vergalhões de metal, essas construções consumiram
quantidades exorbitantes de materiais e também de recursos
financeiros. O conhecimento que acumulamos durante todo esse
tempo nos permitiram desenvolver métodos de construção muito
mais sustentáveis, economicamente viáveis e com menos
desperdício de recursos.
Outro ponto importante a ser analisado é que o concreto romano
não é completamente curado e as estruturas levavam em média 180
dias para firmarem. Os métodos modernos de construção civil
também levam em consideração os cronogramas e metas a serem
atendidas e nem mesmo o benefício da maior resistência é capaz
de tornar viável esperar a secagem de uma construção por meio
ano.
A descoberta do segredo da durabilidade do concreto romano serve
para entendermos como as técnicas foram aprimoradas ao longo do
tempo e não para despertar uma volta ao passado. Afinal,
antigamente não era melhor, era apenas diferente.